quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Crônica de um Brasil com Z -1989

CRÔNICA DE UM BRASIL COM Z - 1989




Espetáculo "Crônica de um Brasil com Z", Teatro Sete de Abril-Pelotas/RS-1989.Da esquerda para direita:Fernanda Avellar, Luciane Monteiro, Rejane Neutzling, Adriana Goulart, Marco Tavares, Tamy Hatano, Luciá Tavares e Moisés Vasconcellos.



O "Crônica" foi uma escola, uma loucura!!! A união do Nilo Corrêa( e dos integrantes do Grupo Z) com Chico Meirelles( Grupo Casa de Brinquedos), do Marquinho Tavares, do Marcão e a parceria com o Centro Social Urbano do Areal, foram cruciais para aquele doido projeto.

Havia uma pesquisa constante sobre os fatos da história brasileira que não aprendemos na escola, discussões em noites frias a dentro, brigas, ciúmes, namoros, desavenças, paixonites agudas e metros de atadura para colocar nas infinitas destensões que sofríamos. Só mais tarde é que fui entender que aquilo até podia ser loucura, mas era o que hoje chama-se pomposamente no meio acadêmico de "work in progress", uma obra inacabada. Pois era isso mesmo, uma grande experienciação com textos que chegavam diariamente. Era também um trabalho de Teatro Dança, resultado da influência direta do Nilo, que vinha da dança e do Marcão que até hoje está envolvido com dança, só que agora do outro lado do Atlântico, em Lisboa. Já o Marquinho trazia o lado da interpretação psicológica, o psicodrama, o método Stanislavisky. E nós do elenco a disposição de mergulhar na deliciosa loucura que nos apresentavam. Trabalhávamos também com violência cênica e contato improvisação, numa época em que nem se ouvia falar disto.

Nunca esqueço que o início era com uma música do Nelson Coelho de Castro:



"Uma narrativa da história viva deste país,

uma palavra ingênua tal qual a gema da massa ali..."



Ensaiavamos diariamente das 18 horas até a madrugada, por volta das 2:30 3:00, e muitos de nós voltámos a pé para casa, em meio ao forte inverno pelotense, perdidos no nevoeiro, aquecíamos nosso retorno com canções que criávamos e com o nosso idioma pessoal: o rabanech. Aos sábados ficávamos o dia inteiro ensaiando e só abandonávamos o local de ensaio(o Auditório do colégio pelotense) as 18 horas por que o local era alugado para uma Igreja. Domingo ficávamos das dez da manhã as dez da noite ensaiando, almoçavamos gororobas que levávamos ou fazíamos um carreteiro sem carne para comer.

Só segunda feira que tínhamos folga, e nestes dias nos telefonávamos, nos encontrávamos, marcávamos algo...pois a saudade era muita...

Eu sempre digo que não sei como nossos pais permitiam que ficássemos até altas horas da noite ensaiando, e sempre falo que não tive tempo para viver conflitos adolescentes, pois estava ocupada ensaiando, vivendo a Crônica melhor de nossas vidas.

Hoje falo com a grande maioria deste povo louco que compartilhava esta crônica comigo, e está cheio de gente fazendo arte:

-O Samuel- que seguiu o caminho da dança;

-O Moisa que é ator e iluminador em Sampa, BSb e Brasil a fora;

-A Fê, que virou acróbata, e está voando por aí;

-A Nani, produtora de arte;

E eu sei que quem não seguiu o caminho da arte ainda guarda no seu coração aquela experiência, pois vivíamos sem saber "a Crônica" de nossas vidas.



Luciá Tavares



Um comentário:

Unknown disse...

fico emocionada ao ver essas fotos e relembrar essas estorias,eu cai meio de gaiato nesse grupo,nunca tive talento algum,me sinto privilegiada de ter feito parte desse grupo,obrigada Nilo!!!desejo todo o sucesso do mundo p/ vcs que deram continuidade a essa arte...espero um dia poder assistir algum espetaculo montado pela cia Z,rever meus velhos e bons amigos,dar muita rizada.Um bj dessa japa loka q ama vcs!!!sayonara!!! mata aeru ne?!